sábado, 12 de junho de 2010

Questão de lealdade

Pois é, começou. E com o pé esquerdo, fazendo cair por terra o pensamento de que é com o direito que começam as boas coisas da vida. Tshabalala (com sua canhota magica) lançou um chute perfeito no ângulo do goleiro mexicano, fazendo os anfitriões serem os primeiros a balançarem as redes. Muito justo.

Justo porque esse povo merece receber o Mundial. Não so pela pobreza que grita por ajuda, não so pelas dificuldades da sua gente, mas porque aqueles que espalham alegria gratuitamente, merecem ganhar sorrisos largos e atenção na mesma medida. A Africa, que ja nos deu tanto, precisa que olhemos mais para ela.

A abertura foi emocionante, com apresentações simples mas cheias de energia. No estadio a torcida fazia o seu espetaculo à parte. Muitas vuvuzelas, caras pintadas e cores, onde o verde e o amarelo predominavam. Felizmente, temos a sorte de dividir com os anfitriões a combinação gritante de cores que estapam as camisas das nossas seleções. As semelhanças não param ai. Não fossem os narradores dizendo que ali era a Africa, eu poderia jurar que as imagens vinham do Brasil, de Salvador talvez. Nossos negros, nossa festa, os batuques e um pouco da miséria no fundo confundem mesmo. Estamos em casa.

Para ser justa, não somos os unicos parecidos com eles, também vejo um pouco da França no pais que recebe esse Mundial - não pelo carisma, claro. A intolerância racial de la também existe aqui, no primeiro mundo. A diferença é que na Africa do Sul esse problema é notoriamente conhecido, amplamente divulgado e talvez por isso, esta caminhando para se resolver. A solução veio ha 16 anos com Mandela e o fim do Apartheid, mas convenhamos que esses poucos anos ainda são suficientes para apagar dores e conflitos de pessoas que viviam sem liberdade, respeito ou tolerância. O tempo faz milagres e nesse caso, o tempo vai precisar de um pouco mais de calma.

Enquanto os africanos parecem estar buscando uma convivência melhor entre brancos e negros, a França segue em caminho oposto, fechando os olhos para o mesmo problema (que não se limita à cor da pele, mas também às origens das pessoas) e rebola para manter firme a aparência de ser um pais onde liberdade, igualdade e fraternidade tem o mesmo peso para todo tipo de gente. Desculpa Rousseau, mas não tem. Quem sabe quando pintar por aqui um Mandela com coragem de tocar na ferida e discutir os tabus?

Mas falemos de futebol, que alias, quase não deu as caras nos 90 minutos do jogo entre França e Uruguai. Melhor assim, zero a zero foi o placar ideal para mim, que jamais poderia torcer para nenhum dos dois times. Pelo Uruguai por causa de 50, quando os malditos levantaram a taça no nosso Maracanã, depois de vencer o Brasil. A maior tragédia da historia do nosso futebol, diria o meu avô. Pela França por causa de 86, 98, 2006 e da mão malandra do Henry que deixou a Irlanda do Thiago e do Ernani fora do Mundial.

Tudo isso pode parecer estupidez aos olhos dos que não se rendem ao futebol. Aqui mesmo na França, pouca importância se da para o (meu) esporte. O torneio de Roland Garros, que dominou os noticiarios nas ultimas semanas, é a prova de que aqui os esportes individuais fazem mais sucesso que os coletivos, tipico deles né? Tai outro motivo para torcer contra os Bleus, isso e as pizzas gratis que meus amigos vão comer na Irlanda. Como eu disse, questão de lealdade.

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