sábado, 12 de junho de 2010

Maior que o futebol

Há alguns meses meu amigo Niall me convidou para uma sessão de leitura de poesias na Trinity College, a universidade mais tradicional da ilha. À frente de um auditório com aproximadamente 50 pessoas, um ótimo poeta inglês nos fazia rir e emocinar com seus escritos. Logo após a sessão, foi a minha vez de convidar o Niall para uma cerveja em um tradicional pub irlandês. Ele, que nasceu aqui, ainda não conhecia o lugar e ficou feliz com a atmosfera jovial e descontraída. Enquanto tomávamos nossa primeira pint, meu amigo, notando os olhares de quase todos os frequentadores do bar grudados na tv que passava um jogo de futebol da Liga dos Campeões, desabafou: "Algumas coisas são mesmo grandiosas. Nós acabamos de sair de casa, junto com outras 50 pessoas, para assistir a um homem lendo seus poemas. Isso é muito gratificante para ele. Mas quando você pensa em música ou futebol, as coisas tomam outras proporções. Pense, por exemplo, em como seria ter escrito a canção 'Imagine' no lugar de John Lennon. O mundo inteiro cantando algumas frases escritas por vc. É genial. E esses jogadores, então? Eles nem sabem que a maioria de nós existe e cá estamos, assim como tantos outros ao redor do planeta, sem piscar para acompanhar cada movimento de suas pernas. Nenhum homem é maior do que o futebol."

É impossível calcular o número exato, mas conta-se aos bilhões o número de pessoas que parou  ontem para acompanhar o jogo de abertura da Copa do Mundo. Jogadores da África do Sul e do México se preparavam para começar o espetáculo, mas a grande notícia do dia era justamente sobre alguém que não estava em campo. A ausência de Nelson Mandela foi sentida pelos atletas, pelos torcedores e por toda a nação sul-africana. Mais do que isso, foi sentida em todo mundo. Infelizmente, o grande líder, talvez um dos últimos verdadeiros heróis da humanidade, não foi notícia por um bom motivo. A morte da bisneta em um trágico acidente de carro tirou dele a oportunidade de festejar seu país sendo o centro do mundo, e tirou do mundo a chance de ver no centro do show um homem que conseguiu ser maior do que o próprio futebol.

É bom saber que, para driblar a obviedade da torcida, as manjadas análises táticas, os esperados e às vezes ausentes gols e até o já surrado tema da vuvuzela, existe um homem, um mito, chamado Nelson Mandela.

Keep fighting, Madiba

(esse post foi escrito para o novíssimo blog Crônicas da Copa - idéia do Thiaguinho que reúne, além do próprio, o Helinho, a Mirelle, esse humilde blogueiro aqui e talvez mais alguém que eu ainda não sei. Se alguém quiser participar, é só dar um alô e será incluído como autor. A idéia é não encher o saco dos leitores dos nossos blogs tradicionais com o assunto futebol durante um mês inteiro. Quesito no qual, como se pode ver, eu já falhei.)

Um comentário:

  1. A idéia era essa? hehehe, eu não sabia, ngm me avisou! Então falhei tb, pq publiquei no meu blog pessoal!

    Irmao, adorei o seu texto. Que boa idéia falar do Mandela ao inves do que rolou nas quatro linhas, ainda acho dificil encontrar algo que faça tanto sentido como futebol e alguem como Mandela.

    Pela combinaçao perfeita, essa tem de tudo para ser a melhor das copas, com o hexa no final, claro!

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